Perseguindo o Amanhecer - Ricardo Lugris

10/08/2015 - Kazan

Clique na foto para ampliá-la
 
Ao entrar na cidade de Kazan, no meio da Russia, deparei-me com uma visão ao mesmo tempo, surpreendente, triste e verdadeiramente nostálgica para alguém, como eu que dedicou uma boa parte de sua vida à aviação.
No pátio de um edificio de algum orgão de estado, parcialmente oculto atrás de uma cerca de uns três metros, com seu elegante e distintivo nariz que insistia em fazer-se notar, havia um belo Tupolev144, outrora o florão e orgulho da indústria aeronáutica Soviética.
O aparelho supersônico que deveria rivalizar com o moderníssimo Concorde, maravilha da aviação comercial capitalista, teve seu fim decretado há 43 anos atrás.
Ali, nos fundos de um terreno de alguma organização estatal russa, estava um dos protótipos de uma aeronave que, 30 anos antes do ocaso do Concorde, teve seu destino selado em um acidente aereo até hoje mal explicado.
Em 3 de Junho de 1973 o Tu144, orgulho Soviético, apresentava-se para o grande público no célebre Salão de Le Bourget, quando, por um problema técnico ou por falha humana, o "Concordovsky", como era chamado pelos aficionados, veio a estatelar-se levando consigo 6 tripulantes, além de 8 pessoas atingidas no solo.
Imediatamente as caixas pretas foram retiradas dos escombros, e levadas para a URSS, sob protestos das autoridades francesas com alegações de que se tratava de material sigiloso, vital e sensível para a indústria de defesa aeronáutica da União Soviética.
Hoje, em Agosto de 2015, deparo-me, por pura coincidencia, com um dos protótipos desta aeronave, em outros tempos cheia de mistérios.
Alguns chegaram a cogitar que para fabrica-la, os russos teriam conseguido roubar os planos do Concorde e, que por sua vez, os britânicos e franceses, parceiros deste último, teriam permitido que os russos levassem o projeto porém recheado de erros de concepção, como se Maquiavel trabalhasse na Aérospatiale.
Tudo é possível, o fato é que hoje, ver uma aeronave desse nível histórico, uma preciosidade aeronáutica, abandonada ao relento, coberta de limo, não é algo agradável para alguém como eu, que ama os aviões.
Não é um final merecido quando se leva em conta a complexidade e dificuldades de um projeto supersônico, em sua época.
Se houve falha técnica porque se pretendía ter uma performance superior ao rival Concorde;
se houve erro humano porque a alça da câmera fotográfica do piloto enganchou nos comandos de vôo;
se houve um Mirage que passou muito próximo dessa aeronave nesse fatídico dia;
ou, se depois disso, houvera qualquer outro desenvolvimento político que tenha forçado a interrupção de tão interessante projeto, nada justifica o abandono ao relento de tão importante testemunho histórico.
Mas ela, essa aeronave mítica, estava ali, na minha frente. E eu, me esticando todo para poder ve-la.
Pelo menos, sou grato por ter podido ver, ao menos parcialmente, atrás de uma cerca, esta singular peça de tecnologia de um mundo que vivia atrás de uma Cortina que já não existe mais.
Percebo, em vez disso, que alguém pateticamente arranjou uma cerca de ferro em torno ao belo e quase esquecido protótipo do tristemente célebre TU 144, o "Concordovsky".

Ricardo Lugris
clique na foto para ampliá-la
Ricardo Lugris
clique na foto para ampliá-la
Ricardo Lugris
clique na foto para ampliá-la
 
 
 
Bookmark e Compartilhe
 

Comente

Nome
E-mail
Comentário
Escreva a chave:
LRHL
 abaixo