As Viagens de Ricardo Lugris

DESTINO ISLÂNDIA

RELATOS DIÁRIOS DA VIAGEM

(quando houver condições de conexão com a internet. A região da ilha é muito inóspita)

Texto e Fotografias: Ricardo Lugris

Ricardo Lugris

 
- - - Primeiro dia de Viagem - - -

É extraordinário nesta nossa curta e efêmera vida a quantidade de pequenas surpresas que ela nos reserva....

O que parecia ser um dia opaco, estéril e digamos, totalmente desprovido de interesse, auto-estrada e tédio... por razões totalmente fora de nosso controle, torna- se uma jornada absolutamente extraordinária, sem que isso ponha em causa os aspectos positivos ou negativos desses fatores.

Bem, depois de filosofar , volto ao assunto de minha Viagem.

A trezentos quilômetros de casa, perto de Gant, na Bélgica, parei para abastecer e a KTM decidiu não ligar mais. Pane elétrica.

Encostei a moto e parti para a verificação de praxe, fusíveis, conexões, bateria etc. Não achei nada.
Encontrei na internet uma concessionária a 30 km, mas já era tarde e estava fechada.

Fui falar com o atendente do posto de gasolina para ver se ele me conseguia alguém para rebocar a moto e poder esperar em um hotel até o dia seguinte e levá-la para ver o problema.

O rapaz responsável pelo posto simplesmente não me deu a menor atenção e não quis ajudar. Tipo, "o problema é seu".

É um país estranho, a Bélgica. Gente que insiste em falar com você e sobre você em holandês quando sabem que você é estrangeiro e fala inglês ou francês. Individualistas, desconfiados e acomodados.

Com o número de emergências consegui alguém para vir buscar a moto. Um senhor atencioso e correto, contatou minha seguradora que assumiu os custos de reboque e hospedagem de hotel para essa noite.
Instalei-me em um pequeno, porém cômodo, hotel e fui ao restaurante ao lado para jantar pois já eram 22 hs. Fui mal recebido pelo proprietário que me soltou à queima roupa ao entrar: Já fechei!
Volto ao hotel e comento com a proprietária minha desfortuna desde o final da tarde. Ela, gentilmente me oferece um jantar frio com frango e salada de sua própria cozinha.

Na manhã seguinte, pontualmente o senhor do caminhão passou com minha moto no hotel e fomos ao concessionário KTM da região.

O dono da concessão disse que poderia verificar o problema mas como só dispunha de um mecânico no sábado, se o reparo fosse mais complexo, eu teria que esperar pela semana seguinte.

Nesse momento considerei voltar à minha casa com o caminhão e trocar a KTM pela BMW que nunca deu problema em minhas viagens.

O mecânico verificou a moto e encontrou rapidamente o problema em um cabo do alternador. Enquanto ele procurava a pane elétrica, notei que a direção tinha uma folga. Ele disse que os rolamentos da coluna de direção precisavam ser trocados. Fui pedir a autorização do proprietário para fazer o serviço e menti, dizendo que precisava trocar os rolamentos da roda dianteira.... Trabalho muito mais simples e rápido. Ele autorizou.

O mecânico, atento e profissional trabalhou por duas horas, liberando a moto para continuar viagem.
Logo em seguida, em um belíssimo dia de sol, na reserva de meu capacete ao longo da estrada, dei-me conta da seqüência de compensações que aquele episódio tinha me propiciado:

O descaso do empregado do posto de gasolina foi compensado pela correção e profissionalismo do motorista do guincho. A falta de interesse do dono do restaurante foi contrariada pela gentileza da dona do hotel e, a arrogância e falta de espírito motociclístico do proprietário da concessionária KTM foi largamente contra-balanceado pela atenção e interesse de seu mecânico.

A vida é assim, sempre vamos encontrar boas pessoas na justa e compensadora medida que nos farão esquecer aquelas que deixaram a desejar. O importante é saber reter o aspecto positivo.

Meu dia e viagem continuaram juntos, cruzando cinco países na mesma jornada para chegar, 900 km depois à ilha de Fyns, na Dinamarca para jantar com o amigo Marcelo Vorcaro em seu retorno de uma viagem ao mitico Nordkapp, na Noruega.

A KTM, portando-se melhor, volta a ser uma motocicleta intrigante e desafiadora.

Tenho até a impressão que ela se sente muito melhor rodando por sua conta do que encima de um caminhão...



DINAMARCA (07 Julho 2013)


Nos dias que correm, sobretudo aqui na Europa, é muito raro percorrer um país que não esteja de alguma forma afetado pela crise ou, na melhor das hipóteses, que não esteja amedrontado pela perspectiva de crise.

A Dinamarca, um pequeno país frio, como diria Neruda, é membro da UE, talvez por conveniência mas, ao mesmo tempo, é um dos países mais euro-cépticos na União dos 28. Tiveram a coragem de dizer não ao plebiscito, gerando uma baita confusão no miolo dos euro-militantes.
Políticas à parte, chegar de moto na Dinamarca em pleno verão é um banho de sossego, tranqüilidade, harmonia, beleza e, sobretudo, limpeza. As pessoas te sorriem, as coisas funcionam a seu ritmo, sem stress. Cada indivíduo, neste pequeno país tem duas coisas garantidas: seu espaço e cabelo loiro.

Depois de ter sido hospedado por Marcelo Vorcaro que generosamente me acolheu na casa do irmão residente no Sul da Dinamarca, (e que fique meu agradecimento ao irmão de Marcelo pela hospitalidade e desprendimento), fui apontando o nariz na KTM para o norte.

Minha idéia era vir para Skagen (se pronuncia scaguen) que, apesar no nome infame, é um dos lugares mais charmosos de toda a Escandinávia.

Pequena cidade na península mais setentrional da Dinamarca, tem em suas casas de cor impreterivelmente amarela, um encanto todo especial.

O ambiente dessa cidadezinha-porto vem a ser incrementado pelo festival de verão e pelas centenas de veleiros que aportam da Suécia, Noruega, Alemanha, etc.
No século XIX, Skagen era célebre junto a pintores impressionistas graças à luz do sol nos entardeceres de verão.

Há 10 anos exatamente, Graça e eu estivemos aqui em uma viagem de moto a caminho do Círculo Polar Ártico. Adoramos.

Daí, em homenagem a esse momento, decidi ficar aqui para me preparar para o embarque no ferry que me levará à Islândia amanhã de manhã.

Hoje cedo fui a uma oficina mecânica para levar a moto.

Calma.... Sobretudo os amantes da KTM, desta vez levei a moto para trocar de calçado. Coloquei pneus off-road para melhor sentir o relevo da Islândia, operação perfeitamente programada com um excelente mecânico local.

Ao final da troca de pneus, a KTM luzindo seus sapatos de trekking, pedi ao Jan, o dinamarquês que fez o serviço, que re-apertasse os parafusos da coluna, recomendado após mil kms após a troca de rolamentos.

Qual não foi minha surpresa (e a do mecânico) ao constatar que na KTM da Bélgica, o mecânico esqueceu de colocar dois dos parafusos do telescópio direito....

Corri o risco de deixar a suspensão nas autobahns alemãs.... Quase liguei pedindo os parafusos de volta, afinal, eles me pertencem!

Bem, colocamos os parafusos e eu decidi contar todos eles na moto(são 187, incluídos os do suporte de GPS que eu mesmo coloquei).

Assim não corro mais o risco de perder mais nenhum. Brincadeiras à parte, a expectativa de percorrer a Islândia é enorme.

Meu navio sai às 11 h da manhã de amanhã. Serão 45 horas a bordo. Tempo para ler, tempo para pensar, tempo para escrever, tempo para fazer amigos.

Dois de meus melhores amigos motociclistas aqui na Europa eu conheci nesse tipo de oportunidade.

Deixo a paz e tranqüilidade da Dinamarca para encontrar o desconhecido da Islândia.



TRAVESSIA DA DINAMARCA À ISLÂNDIA - 9 e 10 de Julho

Se você quiser levar sua moto à Islândia, a única maneira de fazê-lo é através do Ferry que parte de Hirsthals, no norte da Dinamarca.

A alternativa é ir de avião à Islândia e alugar uma moto localmente. Como gosto de viajar com minha própria moto, prefiro a primeira opção.

Trata-se de uma nave imensa, de nome NORRÖNA, que faz a travessia em 45 horas, com uma escala nas Ilhas Feroe. O navio estava previsto ZARPAR (sempre quis dizer isso!) as 11 horas da manhã.

Cheguei cedo, em torno das 8:30 pois sempre fico um pouco ansioso com a expectativa da viagem de navio e os procedimentos de embarque. Perto da hora de subir a bordo já eram mais de 50 motos na fila para enfrentar as terras islandesas nesta semana.

Devo confessar que perdi um pouco aquela sensação de desbravamento, de aventura, de pioneirismo ao ver todo esse povo embarcando.

Passei a me sentir muito mais apropriadamente, um turista em duas rodas, anônimo na multidão. Aliás, esse é um assunto que gosto de abordar:

Tem muita gente que sai de casa de moto com um pouco de bagagem para algum lugar que considera exótico e já decide chamar essa viagem de EXPEDIÇÃO....

Expedição ao Peru, expedição a Bonito, expedição ao Uruguai, expedição a Pindamonhangaba.... (Taí um nome exótico!)


O que foi gostoso de ver na fila de embarque das motos, foi a variedade de nacionalidades e de gente que decidiu, como eu, visitar e percorrer as estradinhas de lava, terra e, por quê não, também de asfalto da Islândia. Alemães, suecos, italianos, belgas, russos e, até um brasileiro!

A conversa fica divertida e animada.

Tem sempre aquele, um tanto quanto "espírito de porco" que vem perguntar por quê você colocou esse tipo de pneu? Não é o melhor para a Islândia.... É algo que me faz pensar nas cuecas.
Por quê alguns usam slips do tipo Zorba e outros usam "samba canção"? Cada um sabe onde lhe aperta o sapato, ou a cueca, se preferirem.

Voltando às motos e ao embarque, sempre somos convidados a ser os primeiros a abordar um ferry. Privilégio da motocicleta. Todas as motos foram colocadas junto à parede, no fundo do porão do navio e nos foram dadas fitas para amarrar as biles para a travessia.

Você não quer que sua moto caia

Se isso acontecer o efeito é de dominó. Assim, o colega da moto ao lado supervisiona e ajuda a amarração da sua.

A fita principal passa sobre a sela, deixe um pano ou uma luva sobre a sela para evitar que com o balanço do navio, a fita de amaragem danifique a sela de sua moto.

Terminada a operação, cada um sobe para receber sua cabine, se a tiver.

Pois é, alguns fazem a travessia de 45 horas sem uma cabine para dormir....

Usam os sacos de dormir e procuram um canto menos frequentado para se instalar.

No meu caso, desculpem mas passei da idade. Conforto é obrigatório.

Eu, reservei uma cabine individual para minha "expedição".
Em seguida, tudo se trata de entrar no ritmo do tempo que corre lentamente.

Almoço, sesta, leitura, conversas, escrever, cerveja, jantar, cinema, dormir e, no dia seguinte, repetir.

Pela janela vejo que o clima vai mudando, estamos indo para o norte e o céu azul dá lugar ao cinza e o mar se torna mais crispado.

Que tempo fará na chegada?

Saberemos na quinta pela manhã, quando as 50 motocicletas a bordo alegremente e ansiosamente escolherem seus destinos nessa interessante ilha feita de gelo, fogo e pedra.



ISLÂNDIA!!! 11/7/2013

Depois de 48 horas a bordo do ferry, a ansiedade para começar a viagem estava no limite.
É nessas horas que a gente costuma fazer alguma trapalhada, esquecer algo, deixar alguma valise solta, algum elástico se, amarrar,

etc.
Verifiquei tudo com calma e tranquilidade. A Islândia pode esperar mais uma meia hora.

Deixei finalmente o navio acompanhado de um bando de motociclistas, como esperava, rolou muita conversa sobre motocicleta e viagens durante as longas horas da travessia.
A primeira impressão na Islândia é um perfume de flores e o ar limpo, muito limpo.

A temperatura em torno dos 14 graus é confortável. O sol brilha timidamente, mas sei que não vai durar. Nuvens carregadas chegam pelo oeste. Estamos no meio do Atlântico em latitudes avançadas no Norte.
O tempo regula a vida dos islandeses.

Caprichoso e temperamental, permite fugazes momentos de sol entremeados de trombas d'água sem piedade onde a temperatura pode cair de 15 graus.

Meu primeiro destino é o Lago de Mytvan, uma reserva ecológica a apenas 140 km do ferry.
Muito perto, penso eu. Depois da imobilidade e confinamento no navio, tenho vontade de percorrer uma distancia maior do que essa em meu primeiro dia.
Decido dar uma grande volta tomando a direção norte em vez de ir diretamente para o leste na direção do lago.

A Islândia tem uma estrada, asfaltada em sua maior parte, a "Ring Road" que literalmente dá a volta ao país.

Para aqueles motociclistas que não tem o hábito, ou não gostam de rodar em pistas de terra, mesmo assim podem fazer uma bela viagem e conhecer razoavelmente o país.
Eu, como aprendi a andar de moto na Serra Gaúcha e nas Trilhas da Serra da Mantiqueira, adoro acelerar em uma pista não asfaltada.

Assim, posso aproveitar para testar a KTM em estradas de terra, bem como o comportamento dos pneus que acabei de instalar na Dinamarca.
Chove muito, a pista, apesar de encharcada, a superfície vulcânica da estrada faz com que o pneu agarre bem. Não levo muito tempo para pegar o jeito e percebo que há uma formação constante de pequenas "costeletas" ao longo da superfície. O jeito é subir a temperatura e, a partir de 70 km/h a coisa se torna suave e constante. É parecido com o rípio, você fica obrigado a rodar a mais de 70.

Vou me divertindo com a KTM na chuva e, de quebra vou curtindo a paisagem que é totalmente diferente de tudo o que eu já vi.

As praias são de areia preta, formações de lava com aspecto fantasmagórico parecem aqueles bunkers alemães destruídos na guerra que vemos na França. Só que estes foram explodidos por forças da natureza....

Em alguns lugares, do centro da terra surgem "fumarolas" que, em função da enorme atividade geotérmica deste país, fazer sair à superfície gases impregnados de enxofre com um forte cheiro característico.

Muita gente diz que é o cheiro que vem do inferno....

Aliás, Julio Verne baseou o seu famoso "Viagem ao Centro da Terra" nessas manifestações geométricas da Islândia.

Em meu caminho estavam as quedas d'água de Dettifoss, as maiores da Europa. Fui visitá-las.
Como qualquer brasileiro quando visita Niagara, Victoria Falls ou qualquer outra cascata pelo mundo, tenho a tendência a comparar com Iguaçu.

Não é tão grande nem tão bonita mas, Dettifoss tem uma força e uma violência perfeitamente compatíveis com a natureza do país que a abriga.
Ainda abaixo de chuva continuei meu caminho até as margens do Lago de Mytvan, um paraíso ecológico muito frequentado por amantes da natureza nesta época do ano.

Encontrei um camping adorável junto ao lago e resolvi acampar em minha primeira noite branca na Islândia.

Aqui, a escuridão no verão é de apenas uma hora por noite.

Mesmo assim, com o barulho da chuva na tela de minha pequena barraca, cansado e quentinho, dormi o sono dos justos com o rugido da KTM ainda ressoando em meus ouvidos.

Amanhã será outro dia. Neste país, onde o clima muda de hora em hora, nada é mais sincero e verdadeiro.



NORTE DA ISLÂNDIA 12/72013

Tenho um amigo que costuma dizer que sempre há espaço para as coisas ficarem piores.

Depois de encarar um dia inteiro de chuva, deixo o belo camping com um céu prestes a descarregar um balde d'água.

A temperatura está baixa, algo em torno de 5 graus. Vou visitar alguns lugares de atividade geotérmica.

A geotermia é o aproveitamento dos vapores em altas temperaturas que vem do subsolo neste país. Assim eles aquecem as casas, a água e produzem energia elétrica para 80% das necessidades da Islândia.

O problema é que quando a gente abre a torneira de água quente, vem um cheiro forte de enxofre que parece ao que uma criança chamaria de "cheiro de pum".

Se você for fazer chá, não use a água quente. O chá vai ter esse gosto...

Eu estava dizendo que sempre pode ficar pior. Uma hora depois de iniciado o meu roteiro pela península de Tjörnes, começo a chover forte e o aguaceiro veio acompanhado de vento.

Felizmente a KTM é menos sensível ao vento lateral do que a BMW e fui me arranjando para compensar as rajadas.

(Faço aqui um parêntese para esclarecimento aos meus amigos BMistas. Eu não troquei a minha GS Adventure por esta KTM. Eduardo Wermelinger e eu decidimos comprar uma KTM 990 Adventure para viagens mais duras, sobretudo por estradas de terra. Continuo um fã incondicional da BMW GSA.)

A pista deveria cruzar uma pequena cadeia de montanhas a uns 400 m de altura e a temperatura caiu a perto de zero. Chuva gelada picava meu nariz e rosto. O vento me dava aquela sensação patagônica e, para completar um quadro já complexo, tive que cruzar dois pequenos rios. Como estou só, antes de enfiar a moto, tive que verificar a profundidade e a superfície do fundo.

Nessa operação molhei as botas.

Legal, pés molhados em baixas temperaturas.

Comecei a sentir o desconforto de pés e mãos gelados mas ainda tinha uns 30 km de pista até a estrada asfaltada. O vento diminuiu e trouxe a neblina. Daquelas em que passarinho desce da árvore pelo tronco...
Quando comecei a me achar um idiota por estar ali e não em algum hotel quentinho, parei para comer uma barra de cereal e alguns figos secos e vejo um ciclista um pouco mais à frente.
Ele estava com toda a bagagem na bicicleta, coberto por um poncho de chuva e quando me aproximei ele, sorridente, disse: Nice day, uh?

Tive que rir de minha imensa covardia.
Tenho uma moto de 1000 cc, posso chegar em qualquer vilarejo em menos de 30 minutos quando o parceiro ali vai levar horas....

Comparti barras de cereal e figos com meu amigo que soube ser sueco, montei na moto me sentindo muito mais animado talvez pelas barras de cereal, talvez pelo fato de saber que há gente muito mais forte do que eu.

No final da tarde a chuva cedeu e um sol magnifico deu os ares de presença. E como este país é bonito com o brilho do sol!

Depois de fazer uns 300 km no dia, voltei ao belo camping junto ao lago para um lauto jantar de biscoitos com patê de pato e uma garrafa de bom vinho que trouxe desde Chantilly na moto.

Sentado ao sol, na grama ao lado da barraca, esse patê com biscoitos me pareceu magnifico sob uma bela noite de sol.

Um brinde à vida!



FIORDES DO NORTE -13 de Julho

Depois de dois dias ininterruptos de aguaceiro, onde este garoto usou seu brinquedinho para tomar "banho" de chuva e brincar na lama, amanheceu um dia brilhante, com um sol esplêndido e o ar fresco e puro como o "bico do beija-flor", como diria o grande poeta gaúcho Jaime Caetano Braun...
Comecei a organizar o abandono de acampamento.

Acomodar tudo nas valises limitadas da moto sem sair parecendo um refugiado de guerra é uma tarefa artística que exige talento e paciência, sobretudo a última.

Um dos exercícios que gosto de me auto-impor em viagem de moto é o de obrigar-me a ser metódico e paciente.

Sou, entre meus amigos e familiares, célebre pela minha grande ausência dessa qualidade tão apreciada em qualquer ser humano. Mesmo assim, talvez com a qualidade que procuramos em nossas vidas com a chegada da maturidade e, através de exercícios simples de organização, contemplação, exercícios de yoga e um olhar bem mais introspectivo, vou chegando, devagar mas de forma constante ao indivíduo que um dia quero ser.

Assim, divagando em meus pensamentos, coloquei o saco-de-dormir em sua bolsa, com a certeza que, depois que sai da fábrica, ninguém consegue acomodar tudo aquilo em uma bolsinha tão pequena....

Em seguida, o travesseiro e a colchonete. Finalmente a barraca.
Quando terminei a operação de abandono do acampamento, uma hora depois, recebi como prêmio uma taça de chá de um casal de canadenses, vizinhos de tenda, que ficaram impressionados com minha metódica operação de carga e acomodação de bagagem na moto.

O dia estava muito lindo para perder tempo.

Os fiordes do norte me esperam há milhares de anos e hoje é o dia de nosso encontro!
Dando a volta de despedida no belo lago de Myvatn e seus incontáveis patinhos, pego a Ring Road Nr. 1, a estrada que dá a volta na Islândia, em direção ao noroeste.

A quarenta km dali, faço um stop nas cataratas de Goddafoss, menos impressionantes que Dettifoss, visitada há uns dias. Não demoro muito vendo a água cair. Tenho o gosto estragado por Iguaçu.
Nenhuma é nem tão bonita, nem tão impressionante!

Sigo meu caminho e encontro uma pequena estrada não pavimentada que me leva, por um vale "de filme de Walt Disney". Simplesmente, maravilhoso.

Dá uma vontade de parar a moto e ligar para alguém, dizendo: Você não acredita onde eu estou!!
Vou curtindo cada raio de sol a uma temperatura em torno dos 9 graus, fresca, mas confortável para o tipo de equipamento pessoal selecionado para esta viagem.

A velocidades entre 70 e 90 km/h, vou deslizando a KTM por essa estrada flanqueada de belas fazendas e que vai serpenteando ao longo de um rio de águas profundamente azuis onde sujeira e poluição são vocábulos jamais ouvidos por aqui.

Este é um país absolutamente preservado. Os islandeses são apenas 300 mil, para uma superfície equivalente à região Sul do Brasil.

Chego finalmente ao Eyafjördur, fiorde que pretendo percorrer em suas duas margens e a vista: montanhas nevadas em ambos lados da grande entrada de mar, me fazem pensar que não há foto que possa refletir toda essa beleza.

Daí minha convicção que a melhor foto é sempre e constantemente nossa memória. Consequentemente nossa responsabilidade de preenchê-la, sempre que possível de belas imagens e bons momentos.
O dia vai se desenrolando como um passeio domingueiro.

A KTM ronronando como gata no cio, vai desenhando cada uma das curvas e conduzindo seu piloto já quase sem fôlego pela grandiosidade do lugar.
Na metade do dia, faço uma pausa em Akureyri, segunda cidade da Islândia para uma visita a um lugar particular:

Um museu de motocicletas.

Criado a partir de uma coleção privada de 22 motos de um motociclista e escultor que se acidentou em 2008, a coleção conta hoje com mais de 100 peças.

Meus amigos, se alguém decide fazer um museu que celebra e preserva a motocicleta, eu desvio de muitos km para prestigiá-lo.

Na verdade, ao anunciar que era do Brasil, os administradores fizeram questão que eu assinasse o livro de visitas e deram-me um badge e um blusão do museu. As surpresas que a vida traz....

Almoço no aeroporto locar (tiques do ofício) e continuo meu passeio de sonhos ao longo desse fiorde espetacular. O tempo se mantém firme e ensolarado.
Sem maiores surpresas chego a um pequeno Porto de pesca de nome Siglujördur, no extremo norte da península de Trollaskagi.

Aqui, os elementos te recordam a latitude.

Fazem 5 graus e a tarde começaria a cair e escurecer, se houvesse noite.

Encontro uma pequena pousada e me inscrevo para a noite, na reflexão e na reverberação de emoções e experiências que ainda tentam se filtrar por meus poros.

Amanhã, sem dúvida, vai ter mais. Muito mais.


FIORDES DO NORTE 14/7/2013

Na noite anterior, depois de esgotar as possibilidades boêmias no pequeno porto de Siglujördur (cujo nome é impronunciável e, mesmo que a gente consiga pronunciar, quando pede para os locais dizerem o nome, sai algo completamente diferente...) que se resumiam a um café aberto até as 10 h da noite.

Descidas duas cervejas, voltei para a pousada em um belo fim de tarde.

Fui dormir cedo, resultado de um cansaço que começa a se acumular e acordei com o sol alto entrando pela janela do quarto.

Achei que tinha dormido demais e olhando o relógio, não entendi muito bem. Li, 9h mas, na confusão do sono algo me parecia errado com o relógio. Saindo da patetice soporífica, acabei por entender: eram 3h da manhã.

E estava olhando o relógio de cabeça pra baixo.

Toda essa confusão foi causada pela posição do sol a essa hora tão cedo. Fechei as cortinas e voltei a dormir.
Acordei (desta vez de verdade) às 9 e comecei a preparar-me para partir.

O sol continuava lindo e a jornada prometia.

Hoje percorreria o fiorde de Skagafjördur, entre as penínsulas de Skagi e Trollaskagi. Entre as duas, uma região plana sem maior interesse.

Entrei por pequenas estradinhas de terra, curtindo o sol e a beleza da paisagem, sem maiores preocupações.

Na metade do dia parei para almoçar em um restaurante que preparava, aparentemente, bons hambúrgueres. Realmente, não me arrependi.

Um dos aspectos não tão positivos da Islândia é a comunicação com o seu povo. Não é um problema de linguagem pois todos falam correntemente o inglês.

Eles são em geral, amáveis, educados e corteses. E só isso.

Quando você tenta se engajar em algum tipo de conversa, não mostram nenhum interesse por você, desviando muitas vezes, a atenção para outra coisa no meio da conversa.

Assim, fica difícil estabelecer uma conexão e impede qualquer diálogo.

Após o excelente hambúrguer, fui procurar uma estrada que me haviam dito ter uma fonte e piscina de água quente no seu final.

Mal sabia eu que iria fazer os 15 km mais bonitos dos últimos anos. Entre montanha e fiorde, a estreita estradinha de terra batida parecia estar pendurada na encosta sem se deixar cair no oceano.

A longo dessa estrada, fazendas de criação de cavalos de raça Islandesa, com seu pequeno porte e suas imensas crinas, davam um toque de mestre a um cenário absolutamente impossível.

Cheguei à fonte de água quente, paguei a taxa de entrada, coloquei meu calção de banho e entrei na água aquecida a 42 graus. Em muitos lugares se podem ver bolhas que indicam por onde, entre as rochas, está saindo a água quente.

Foram uns 45 min de felicidade. Em um quadro magnifico, temperatura exterior de 8 graus e você ali, de molho numa piscina natural quente se sentindo um paxá!

Ao sair da água, você não sente frio. É como quando saímos de uma sauna.

Assim, vesti novamente minhas roupas e voltei à estrada para completar a volta de 120 km nessa península árida, ventosa e deserta mas de uma beleza singular.

Ao final dessa bela tarde, encontrei um camping simpático e resolvi fechar o dia com duas latas de Tuborg e o repouso em uma tenda 5 estrelas!

Estou esperando noticias de um amigo, Marcelo Resende, de Belo Horizonte que vem viajando também de moto pela Islândia a dois dias atrás de mim.

Quem sabe poderemos nos encontrar amanhã?


HVAMMSTANGI - 15/7/2013

Nada como um dia após o outro para revisarmos nossas opiniões e conceitos pré-estabelecidos. Pré-conceito = preconceito.

No post anterior fiz uma crítica velada à reserva, falta de comunicação e contato dos Islandeses.

Retiro formalmente, com todos vocês como testemunha, o que escrevi nesse post.

Enquanto percorria a bela península de Vatnsnes (por quê sempre tenho a impressão que as letras não estão na ordem certa nesses nomes?) tive um novo problema com a moto. Bati em uma pedra na parte inferior da moto, na base da bequilha lateral.

Quando, alguns km mais tarde, parei a moto para abastecer, o suporte lateral cedeu e a base quebrou-se, levando consigo a moto e o sensor magnético de indicação de bequilha recolhida.

Resultado: a moto entende que o pezinho lateral está abaixado e não me deixa colocar a primeira marcha. Corta o motor.
Tentei colar o imã no sensor: não funcionou. Tentei fazer um loop na fiação: necas!

Desmontei o para-brisa e painel lateral para chegar na fiação, soltar a indicação de "neutro" e enganar o computador mas, confesso, não consegui achar o bom fio....

Isso tudo na chuva, no pátio de uma estação de serviço.

Procurei localmente dois mecânicos de automóvel mas eles disseram não conhecer motocicletas e que não se atreveriam a mexer.

Tudo o que fiz acima, não se enganem, queridos amigos, foi com o apoio por telefone de meu amigo Bruno Sureau, desde Madri, um grande parceiro de viagens em moto e uma fera na mecânica, além de proprietário de duas KTM, uma delas igual à que estou viajando.

Bruno enviou-me por internet o endereço e telefone da KTM de Reikjavik e ali eles tampouco puderam dar-me uma solução a ser aplicada à distancia.

O jeito foi tentar conseguir um transporte para levar a moto até a capital e ao concessionário.
Enquanto isso, consegui um caminhão para levar a KTM 990 Adventure até o concessionário mais próximo, na Capital, a 350 km de distancia.

Enquanto receba a peça, volto aonde me encontrava no Norte para retomar meu adorável passeio pela Islândia.

Como ponto positivo nesta história, e o que contraria meu post de ontem, é o excelente apoio que tive do proprietário da estação de serviço, Ommar e de sua esposa, Harpa.

Eles, muito provavelmente jamais irão ler estas linhas mas encontraram um lugarzinho em meu coração pela generosidade, solidariedade, atenção e mesmo, a hospitalidade de ter colocado a KTM em sua própria garagem.

Enquanto eu trabalhava deitado sob a moto, na chuva, com 7 graus de temperatura, Harpa, a senhora, veio trazer-me uma grande taça de café.
Um detalhe. Um lindo detalhe.

Para terminar, sei que há muitos apaixonados pela KTM e eu adoro o design dessa moto. Entenda-se que não está aqui uma critica à moto em si, mas sobretudo ao sistema de apoio e à falta de atenção devida das oficinas KTM em que esta moto passou.

Esqueceram de apertar ou colocar parafusos, não respeitaram procedimentos em revisões, não perceberam folgas de rolamentos a serem substituídos, não tinham peças básicas ou mecânicos disponíveis para apoiar a moto em plena temporada alta, e tampouco conseguem (ou querem) resolver um problema simples remotamente.

Gente que viaja precisa de um apoio remoto em algum momento. A concessionária mais próxima é o ponto ideal.

Na contracorrente dessa tendência, vale a pena destacar o engajamento, comprometimento, confiança e dedicação de Jesus Seco (foto) o proprietário da concessionária KTM em Madrid que retirou de uma de suas motos o suporte que eu eventualmente precisaria, para enviá-lo da Espanha à Islândia por DHL, sem nenhuma garantia financeira.

A KTM 990 é uma delícia, estável, potente, valente e se porta maravilhosamente bem no off-road mas, me dá a impressão de ser um pouco frágil e exigir manutenção atenta e constante o que eu, talvez por ignorância ou incompetência, não sei fazer.

Para trazer uma nota positiva, tive que pernoitar ali onde estava, no pequeno vilarejo de Hvammstangi onde habitam 580 almas.

Como não havia hotel disponível, comecei a pensar em montar minha barraca em algum lugar, tarefa não muito confortável em função da chuva.

Ficar na barraca, deitado, das 16 h até o dia seguinte não me seduzia exageradamente.

Eis que o nosso bravo Ommar fez um par de ligações e ofereceu-me para ficar hospedado na casa de Liljiana e Siggi, o Diretor da Escola local.

Um casal adorável que, além de receber-me com simpatia, naturalidade e cortesia, teve a brilhante ideia de convidar-me para um banho de piscina aquecida a 40 graus!

Para relaxar, disseram eles. Conversamos até tarde da noite sobre o mundo, sobre culturas, tradições e, sobretudo, sobre valores humanos.

Nisso, apesar de eu ser do Sul e eles do extremo Norte, acho que coincidimos, e muito.

Finalmente, levei a moto em um caminhão pelos 300 km que me separavam de Reikjavik e tive uma boa acolhida no Concessionário KTM local. O problema do sensor foi corrigido colocando um terminal que faz o "loop" em um sistema mal concebido, em minha opinião.

Não serei impedido de partir quando a bequilha estiver embaixo, é um risco, mas tampouco ficarei imobilizado por algo tão banal.

O conjunto da bequilha lateral pôde ser reparado e instalado.

Vou retornar à minha excelente viagem tendo passado dois dias na agradável e movimentada Reikjavik.

A capital de estado mais setentrional do mundo e, com seus 120 mil habitantes, uma das mais pequenas.

O que fez a capital da Islândia ficar muito especial ontem foi o encontro inusitado e fraterno com o Marcelo Resende, parceiro aqui no Rotaway e grande motociclista das Minas Gerais para o mundo.

Em uma conversa agradável, acompanhada de boa cerveja, falamos da vida, da família e, sobretudo, de motociclismo.

Muito bom, mesmo!


PENÍNSULA DE SNAELLFESNESS - 18/7/2013

Depois de dois dias curtindo a pequenina, animada e charmosa Reikjavik enquanto esperava pelo reparo da moto, já era hora de pegar a estrada antes que o corpo e a mente se acomodem ao conforto do bom hotel, os bons bares e restaurantes e, sobretudo à forma simpática e aberta que os habitantes da capital recebem os estrangeiros.

Uma grande mudança comparado ao interior do país.

Deixei a cidade em direção à península de Snaellfesness Distante apenas 150 km da capital. O tempo, ameaçador e pesado anunciava chuva para logo.
Enquanto isso, eu resolvi não colocar a roupa de chuva. Resolvi confiar na impermeabilidade de minha roupa.

Falando em traje, taí algo fundamental quando se vem, para estas latitudes.
Você não pode vacilar no equipamento. Aqui chove, faz frio, vento, granizo, neblina e sol, dentro da mesma hora.

Trouxe para esta viagem um conjunto, casaco e calça, da BÜSE, fabricante alemão de equipamento para motociclistas que aprovou inteiramente neste clima imprevisível.

Impermeável e quente, me manteve confortável em qualquer condição de tempo.

As luvas, escolhi um modelo com forro de GoreTex, do fabricante Finlandês, Rukka.
As botas sao da W2, italianas, muito confortáveis, mas que tem deixado passar umidade, principalmente depois que entrei na água até os joelhos...

Uma vez a moto reparada, posso novamente curtir o que a KTM tem de melhor: sua estabilidade nas pistas molhadas onde posso rodar em velocidades de 80/90 km/h.

Coloquei pneus Heidenau K60 e o resultado não poderia ser melhor.

Assim, deixei Reikjavik para ir conhecer a Península de Snaellfesnes, aproveitando no caminho para visitar Thingvellir onde foi organizado o Alping, primeiro parlamento no mundo.

Ali também está o encontro das placas geológicas euro asiática e norte americana. Essas duas placas se afastam de 5mm por ano e podem ser vistas ao longo de 3 km.

A apenas 30 minutos de viagem, a temperatura tombou para 5 graus e começou a cair uma chuva fininha, daquelas que quando você percebe, já te molhou completamente.

Visitei rapidamente as ruínas do velho Parlamento Viking e rumei para o meu destino naquele dia. Só que decidi fazer um grande desvio e poder percorrer uma pequena estrada que passa pelas montanhas ao lado do Glaciar de Hveravellir.

Não abasteci antes de sair de Reikjavik e a luz de reserva se acendeu logo depois da visita ao Parlamento. chequei meu GPS e o posto mais próximo estava, na direção oposta, a 28 km.

Tinha 5 litros no camburão que carrego sempre em viagens deste tipo. Fiz a conta e os 70 km que me separavam do destino deveriam ser suficientes para essa quantidade de gasolina.

Assim, com chuva vento e frio e pouca gasolina, embrenhei-me nas montanhas do interior da Islândia.

É curioso que, apesar da dureza dos elementos, conseguimos tirar prazer na pilotagem da moto em estradinhas difíceis e, finalmente conseguimos abstrair o desconforto e a falta de visibilidade que a chuva provoca.

Pilotar, percorrer, ver, apreciar, conhecer, comprovar, comparar, todos esses são verbos muito utilizados em uma viagem de moto.

Com a beleza das paisagens consegui esquecer completamente o mau tempo e passei a me concentrar no prazer de conduzir a moto.

Sentir a superfície da estrada através do contato dos pneus é um privilegio que qualquer motociclista, como eu, formado em trilhas e enduros não pode deixar de apreciar.

Há muito tempo não colocava uma moto em estradas não pavimentadas. Tinha esquecido o prazer que essa condução proporciona.

Assim entre sonhos e delírios, fui passando de uma estrada a outra e, quando me dei conta, depois de percorrer 70 km já não tinha a gasolina do camburão, a moto indicava reserva e o posto mais próximo estava a 40 km. Problema.

Parei em um par de fazendas para ver se eles tinha combustível para me vender.
Negativo.

Assim, fui levando a moto de mansinho, "na ponta dos dedos", como dizia o Galvão Bueno, e cheguei ao posto de gasolina literalmente no "cheiro".

Renovado o carburante da moto, entrei na Península de Reykjannes, um dos lugares mais bonitos de toda a Islândia.

Fui recepcionado por um vento de través e uma chuva horizontal que me deu uma tremenda saudade da Patagônia.

Chuva e vento é sempre uma combinação que todo motociclista "adora"...

Para completar o quadro, nuvens baixas cobriam as montanhas sem permitir ter o luxo da vista, o prazer da paisagem.

Uma coisa curiosa na Islândia, é que aqui, as nuvens são mais baixas do que em qualquer outro lugar.

Elas ficam ali, a uns 300 m de altura. Se você subir a montanha e passar dessa altitude, vai seguramente entrar na nuvem.

Em uma estrada plana e longa, espichei o punho e acelerei, tentando evitar o vento com a velocidade.

De repente, vejo outro motociclista em sentido contrario que me faz gestos para que me detenha.

Paro a moto e ele vem até mim.

Para minha surpresa, era Marcelo Resende, nosso parceiro aqui no Rotaway, também em viagem pela Islândia com uma moto alugada localmente, com quem tinha tomado algumas cervejas na noite anterior em Reykjavik.

Curiosamente, apesar de minha grande volta pelas montanhas, coincidimos nesse ponto específico. Coisas que a moto aporta.

Tempo para uma foto na chuva.

Ele, em seguida, tomou a direção da capital para terminar sua viagem e eu, a direção da magnifica estradinha que cruza pelo monte Snaefellsjökull e seu glaciar, em um dos momentos mais vibrantes de minha viagem até agora..

Aproveitei que aqui as noites não existem e resolvi chegar ao destino desse dia através do nevoeiro, da neve e do vento dessa montanha extraordinária.

A sensação de solidão percorrendo a delicada e perigosa pista na montanha onde a moto cruzava entre paredes de neve de mais de dois metros e onde o degelo provocava riachos de profundidade razoável.

O dia portanto, esteve pleno de aventura, de motociclismo, de imprevistos e, como uma cereja em bolo, o encontro com um amigo e parceiro brasileiro em terras tão distantes.


FIORDES OCIDENTAIS - 19 de Julho

Há alguns momentos na vida em que você tem certeza que a experiência a ponto de ser iniciada vai ser boa, mesmo antes de começá-la.

Uma fruta madura, um copo de cerveja gelado, uma nova amizade, e também uma nova estrada a percorrer com sua motocicleta.

Depois de passar a noite em um Hostal no pequeno porto de Stykkisholmur onde, na véspera para jantar tive a oportunidade de degustar os excelentes e enormes mexilhões produzidos no oceano Ártico, preparei a bagagem ainda com as reverberações na memória de minha travessia do Vulcão Snaefelljökull na tarde precedente.

Essa estradinha em torno da montanha representou para mim a essência do que é a Islândia.

Todos os elementos se encontravam reunidos naquele momento, água, vento, fogo, gelo, pedras e lava.
Este é um país onde a natureza domina amplamente sobre a insignificância de seus habitantes. O homem aqui, se adapta.

Julio Verne escreveu "A viagem ao Centro da Terra" inspirado na cratera deste vulcão e eu, humildemente, pedi licença e passei com minha moto por suas encostas em uma tarde de chuva, neblina e frio.

De Stykkisholmur, levei minha moto até o cais onde a embarquei em um ferry de três horas com destino aos Fiordes Ocidentais, aquela parte que se vê no mapa da Islândia e que parece a galhada de um alce.

Os fiordes ocidentais é a região mais selvagem e dramática de toda a ilha.
É também ali onde o tempo é mais caprichoso e temperamental. Como se diz localmente, "se você não gosta do tempo que está fazendo, espere quinze minutos, vai ficar pior".

A travessia no ferry foi agradável, sobretudo na saída do pequeno porto e na passagem de pequenas ilhas ao longo da grande baía que separa Snaellfesness dos Fiordes Ocidentais.

Permaneci no deck superior, ao ar livre, observando, com meus binóculos, pássaros e focas vivendo tranquilamente nas pequenas ilhas na passagem do navio.

A animação dos passageiros, muitos deles com destino à pequena e misteriosa ilha de Flatey onde vive uma centena de pessoas ao longo do ano e sobre a qual foi escrita uma novela de mistério que estou lendo neste momento.

Um grupo de umas vinte islandesas, visivelmente amigas, dava o tom da empolgação. Iriam fazer uma caminhada em Flatey.

Em um determinado momento pediram, em função de meus trajes, para fazer uma foto comigo o que, considerando obviamente divertido, resolvi aceitar...

Finalmente, o bom tempo começou a se deteriorar e desci ao salão interior do navio para ler um pouco durante a ultima hora da viagem.

Ao desembarcar, chovia e a temperatura andava na casa dos cinco graus.

Fechei bem os punhos e a gola da jaqueta, ajustei o capacete, e parti para a descoberta desses caminhos extremos, consciente do privilégio que é de poder estar aqui.

O asfalto não durou muito, logo chegou a placa que indica o final da pavimentação e, com ela, aumentou minha concentração, atenção e prazer.

As nuvens, baixas, cobrem a metade superior das montanhas que se debruçam sobre o fiorde. A imagem tem um toque ameaçador entre vento e chuva.

Seria muito mais bonito se o sol brilhasse mas talvez muito menos misterioso.

Tomei a direção do oeste para, através de uma estrada de lava, levar minha moto até Latravik, o ponto mais Ocidental de toda a Europa.

Ali, alheios ao significado geográfico, vivem empoleirados nas altas falésias açoitadas pelo vento glacial do Ártico, milhares de Puffins (chamados em português de "papagaio-do-mar"), adoráveis e tímidos palmípedes que tem uma forma engraçada de voar.

Em seguida, sempre entre vento e chuva que se alternavam a cada 30 minutos, fui colocando a roda dianteira da KTM na melhor parte da pista e a partir de uma localidade chamada Bildudalur, a estrada transformou-se em puro espetáculo.

Foto nenhuma poderá descrever a grandiosidade do cenário. É preciso absolutamente vivê-lo.

E assim pela Estrada de número 63, entre montanhas e fiordes, com um mar azul, praias de areia branca, ( Na Islândia, as praias, de maneira geral, sao de areia negra, vulcânica) e o céu sempre ameaçador com minha curiosidade me levando em seus braços.

Sempre que vejo essas praias desertas e selvagens de água cor turquesa, penso que o Criador deu-se ao luxo de colocá-las onde ninguém as utilizaria.... Simplesmente é impossível entrar na água para se banhar. Seria hipotermia na certa.

Em um determinado momento, no meio da tarde, ao lado da estrada junto a um belo fiorde, vejo uma pequena coluna de vapor. Paro a moto e vou verificar. Tratava-se, como eu imaginava, de um "hot spot", uma fonte natural de água quente que forma uma pequena piscina bloqueada por algumas pedras. Ao lado, uma cabana em madeira dava o conforto mínimo para poder trocar de roupa.

Depois de todo um dia enfrentando chuva e frio, a perspectiva de entrar em uma piscina natural aquecida pela natureza a mais de 40 graus, era mais do que tentador.

Vocês não podem imaginar a sensação de prazer em mergulhar (cautelosamente, no inicio pois você precisa verificar que a água esteja a uma temperatura aceitável, ou você se queima) nessa maravilha.

Fiquei ali, por uma hora, sem pressa, sem compromisso, sem destino.

Por 45 minutos, até que chegou uma família de austríacos, curti a solidão do lugar e agradeci à mãe natureza pela capacidade de exigir, mas ao mesmo tempo, de poder prover a estes humildes habitantes de nosso belo e intrigante planeta.

Os banhos quentes fazem parte da cultura da Islândia, assim como a sauna faz parte da cultura da Finlândia.

Os lugares de socialização nas cidadezinhas do interior são a igreja e a piscina, obviamente a última, devidamente aquecida pela geotermia..

Terminei meu banho e, revigorado e feliz, retomei minha magnifica estrada até a pequenina cidade de Thingeyri, onde encontrei uma pousada conveniente para passar a noite.

Uma sopa e uma boa cerveja no Café local fecharam um dia particularmente especial.

Há um provérbio chinês que eu gosto muito, e que diz: "Se você não estudou o suficiente, precisa viajar o suficiente"

É o meu caso..


FIORDES OCIDENTAIS II - 20 de Julho

Há sempre uma certa dificuldade quando tentamos colocar sequência em um relato sobretudo no elo de continuidade entre um dia e outro.

Depois de um jornada particular em que os olhos e a alma foram preenchidos pelas espetaculares paisagens do Oeste da Islândia e, depois de um dia em que meus instintos como motociclista foram perfeitamente revigorados e confirmados, volto à estrada para continuar meu roteiro por esta região que, insisto, é de uma dramaticidade ímpar.

Para viajar nos Fiordes Ocidentais da Islândia, é preciso não ter pressa. Ajusto então o GPS para o destino que quero dar à moto naquele dia e ele imediatamente indica uma distancia a voo de pássaro, de 125 km. Depois que o mesmo GPS termina de calcular, a distancia real a percorrer será de 429 km!

Um fiorde é uma entrada de mar que pode ter até 60 ou 70 kms de profundidade, terra a dentro. Como, no caso desta região, as montanhas que rodeiam o fiorde são difíceis a transpor, as estradas sao construídas na encosta da montanha, dando um contorno belíssimo à pista e proporcionando ao viajante uma paisagem constantemente inédita com vistas surpreendente e inovativamente, generosas.

O tempo, nublado e, sobretudo carregado na parte da manhã começa a clarear. A temperatura permanece abaixo dos 10 graus.

Decido fazer uma estradinha até a entrada do fiorde de Thingeyri onde pernoitei, para tentar chegar onde outros não vão.

Não é ese o objetivo maior de quem viaja? O caminho é sem saída após uns 30 km.

Dura, com muito pedregulho e irregularidade, faço a KTM e minha hérnia de disco sofrer mais do que o desejado.

Encontro no final do fiorde uma praia lindíssima com algumas casas e me pergunto quem realmente vive em um lugar assim, de difícil acesso no verão e, seguramente, de impossível acesso no inverno.

Aqui, ao contrário do que se possa imaginar, as temperaturas não descem além dos 10 graus negativos no inverno, mas o vento é tal que jamais irá nevar verticalmente.

Diante de um mar de cor turquesa, povoado por gansos selvagens, retiro duas barras de cereal, e me instalo sobre um tronco trazido à deriva pelo Oceano Ártico.

Aliás, essa madeira, de deriva, dura, curtida, embranquecida e absolutamente limpa de micro-organismos, flutua desde a costa do Alasca e fica, em média, dez anos no mar.

Abundante na costa oeste da Islândia, essa madeira, entregue gratuitamente pelo oceano, serve como material de construção, manufatura de móveis rústicos e peças artesanais, além de bom material combustível em um país onde as árvores são quase inexistentes.

Depois de alguns minutos curtindo aquela praia selvagem de areias negras, retorno à minha moto para o caminho de volta à estrada principal.

Nesse momento, percebo a mancha de óleo na base do telescópio da suspensão dianteira direita da moto. O retentor cedeu.

Apesar de não ser um problema imobilizante, é mais um problema.

Retomo a estrada sabendo que com esse vazamento, não posso colocar a moto em estradas de superfície irregular.

Em resumo, estarei limitado a estradas asfaltadas até reparar o vazamento.

Sem perder o ânimo, prefiro concentrar-me na beleza da paisagem e assim, acabo por chegar a Isafjördur, a principal cidade da região e porto de pesca importante no contexto da produção Islandesa.
Sua época de ouro foi no inicio do século XX, com a produção de Bacalhau e Harenque.

A bela arquitetura de suas casas testemunha a prosperidade do lugar.

Enquanto almoço um prato de bacalhau fresco delicadamente preparado com molho de pimenta verde e batatas, tento contatar o concessionário KTM em Reykjavik para saber se ele tem disponíveis os retentores.

Ninguém sabe me informar se há um mecânico de moto na cidade.

Apesar de ser um paraíso para a motocicleta no verão, a Islândia, com seu clima rude, permanece coberta de neve 8 meses por ano.

Portanto, a motocicleta não é algo tão popular entre os islandeses.

Termino meu belo almoço com tranquilidade e decido procurar um mecânico para tentar amenizar, ou conter, o vazamento.

Estamos em um sábado à tarde e aqui, sobretudo no verão, tudo está fechado.

Através de um empregado de um posto de gasolina, consigo o contato de um jovem irlandês, motociclista e mecânico amador que nesse momento, em uma cidadezinha vizinha, está trabalhando na restauração de um Fusquinha. (É curioso como eles estão virando peças de colecionador...)

O irlandês me recebe amistosamente e constata o que eu já sabia.

A única maneira de abordar o problema é injetar óleo no amortecedor através do parafuso de respiro.

Fomos procurar óleo de suspensão o que conseguimos em uma loja de material para barcos de pesca que meu amigo conseguiu fazer abrir.

Em uma outra pequena loja consegui uma seringa para vacinar ovelhas e, com isso poderia injetar o fluido para compensar o vazamento, dando-me tempo de poder chegar a Reikjavik, a 700 km de distancia.

Assim, posso continuar meu belo fim de semana pelo oeste da Islândia.

Agradeci o apoio desse desinteressado jovem e me coloquei à disposição para lhe enviar alguma peça de VW que ele possa realmente precisar em sua restauração do brasileiríssimo Fusca.

Ao voltar a Isafjördur, em uma dessas belas coincidências que a moto proporciona, encontro Giuglielmo e Maria, um simpático casal de italianos viajando em uma GSA.

Tínhamos nos conhecido no ferry desde a Dinamarca e, aproveitando a bela casualidade, eles prontamente me convidam para jantar.

Organizado o meu programa, administrada a Pane da moto pelo momento, considero que meu dia esteve bastante produtivo e, sem duvida, interessante.

Só me resta encontrar um lugar para passar a noite e, como bônus gratuito e desinteressado, tenho um sol esplêndido e a temperatura é, surpreendentemente, de 15 graus.

Quase verão, penso eu.


DIREÇÃO SUL DA ISLÂNDIA - 21 de Julho

Dormi bem. Instalado em um prédio que é colégio interno no inverno e que se transforma em hotel no verão. A preço razoável, um quarto limpo, claro e arejado e um banheiro comum a quatro quartos bastante limpo e confortável.

O jantar com Guiuglielmo e Maria fora agradável pelo nível de conversa.

Motociclismo também é cultura!

Uma bela manhã de sol me esperava para, depois de passar vários dias percorrendo o Norte e o Oeste, mudar de proa e partir na direção Sul.

Sem esquecer que a moto tem um problema de vazamento de óleo no amortecedor dianteiro, preciso me organizar para poder ir administrando a dificuldade sem perder a oportunidade de percorrer os lugares que me interessam, antes de me aproximar de Reykjavik, onde novamente vou visitar o concessionário KTM para tentar solucionar o problema com a troca dos retentores e do óleo da suspensão dianteira.

Desde Isafjördur, vou seguindo uma bela estrada asfaltada que desenha os fiordes de forma precisa e se mostra extremamente agradável à condução. A temperatura está em torno dos 8 graus.

Em pouco tempo vai se levantando um vento intenso e forte que permanecerá soprando com constância durante toda a jornada.

Desde que cheguei à Islândia, há exatamente 10 dias, não houve um só dia em que o tempo não tenha mudado várias vezes ao longo da jornada.

O clima aqui, é onipresente. Como disse antes, ele dá as regras.

Vou levando a moto com vento soprando em direções várias, jamais a favor.
Nesse momento, vejo uma cena que quase desafia as leis da física: dois ciclistas descendo um declive bastante pronunciado no sentido contrário da pista, eram obrigados a pedalar forte para poder descer o morro, tal era o vento contra!

Parecia cena de um filme de Buñuel.

Percebi no mapa que essa estrada me levaria a poucos quilômetros de Hvammstangi, a cidadezinha onde fiquei hospedado há alguns dias quando minha moto ficou em pane.

Liguei para o casal que me hospedou e, como era domingo, pensei em passar para cumprimentá-los em sua bela casa na beira do fiorde.

A resposta que recebi foi tão surpreendente quanto prazerosa.

Não só eles mostraram alegria em me rever, como esperavam que eu ficasse hospedado com eles à noite pois iriam fazer um assado de salmão, pescado por Siggi na véspera.

Cheguei em torno das 17 h pois aqui se janta a partir das 18, depois de chacoalhar durante todo o dia em um vento impossivelmente violento e constante.

Depois de fazer a operação de injetar algum óleo na suspensão da moto com uma seringa para compensar o vazamento, ofereci-me para fazer algumas "caipiroskas" que nem meus amigos, nem seus convidados locais conheciam.

O salmão selvagem que comemos, brilhantemente assado por Liljana e acompanhado de molhos da Macedônia, seu país de origem, foi uma festa para o paladar.

Tanto na cor quanto no sabor, não tinha nada a ver com o salmão de cultivo que consumimos no nosso dia-a-dia.

Após o jantar, fomos ver uma baleia que tinha encalhado nesse dia em fiorde vizinho e não sobrevivera, apesar dos esforços do pessoal local para liberá-la.

Uma cena triste que assistimos ao chegar ao loca às 11:45 h da noite.

O sol se mantinha no céu, ignorando o tradicional "toque de recolher".

O retorno no carro de Siggi foi envolto em um silencio melancólico como se a cena da morte desse grande animal nos tivesse afetado um pouco a todos.

Na manhã seguinte, sob uma chuvinha fina porém constante, deixo a casa dos amigos Islandeses para descer novamente os 300 km que me separam de Reykjavik onde novamente levarei a moto para consertar.

Com um pouco de sorte, espero continuar meu caminho ainda hoje, uma vez a suspensão reparada.

A paisagem vai se alternando entre vales e montanhas com certo charme mas sem o impacto dos últimos dias.

O trânsito flui tranquilo como se deve esperar em um país de apenas 330 mil habitantes.

Sem engarrafamentos, sem pressa, sem stress.


REYKJAVIK - 22 de Julho

O conserto da moto tomou um pouco mais tempo do que eu previa.
Tive, obviamente, que substituir os retentores em ambos amortecedores.

Aqui na Islândia, como no resto da Europa, nada se faz sem programar, sem planejar, sem hora marcada..

A KTM não tinha mecânico disponível (todos em férias!) e, portanto tive que conseguir que outra marca fizesse o trabalho. No caso, a Kawasaki.

Decidi, em função da hora ficar aquela noite na capital.

Precisava fazer algumas comprinhas e é evidente a limitação no comércio das pequenas cidadezinhas ao redor do país.

A rua do comércio de Reykjavik é de boa qualidade, com lojas de marca sobretudo em roupas de alta tecnologia para o frio. Meio evidente, né?

A tarde é ensolarada e a cidade está tomada por turistas.

Há muitos franceses, italianos e austríacos. Com seus cacoetes de europeus, falam alto, são grosseiros, em um país onde amabilidade, civilidade e educação devem obrigatoriamente se impor.

Tradicionalmente, a Islândia tem bons pacotes de vôos, atraindo turistas baratos, mas a hospedagem e a alimentação são reputadamente caras.

Janto em um pequeno bistrô, bem instalado junto à uma grande janela com vista para a rua.

É extraordinário observar as pessoas que passam e, sobretudo tentar adivinhar como serão as suas vidas.

Serão felizes? Terão amigos? Família? Hobbies? Religião?

As relações familiares em um país de histórico isolado como a Islândia são extremamente fortes e delimitadas por clãs.

É raro que uma família não tenha alguma relação de parentesco com outra.

Existe até um aplicativo de IPhone em que os jovens daqui, antes de se relacionar, colocam seus nomes para saber, de antemão, se poderiam ser primos...

Outra curiosidade na Islândia é que aqui não há sobrenomes, todos recebem um nome patronímico.

Exatamente. As pessoas recebem o nome do pai, por exemplo:

Se o seu pai se chama Lars, e você Karl, seu nome será Karl Larsson. (Karl, o filho de Lars). Se Lars tiver uma filha e ela se chama Liv, seu nome completo será Liv Larsdottir (Liv, a filha de Lars). Simples né?

Anda a respeito de nomes, qualquer estrangeiro que se naturalize Islandês, precisará adotar um nome local.

Não tem nenhuma Joãodottir e nenhum Josésson por aqui. Sem chance!

Depois de me divertir um pouco pensando em como ficaria esse sistema com alguns nomes como Wanderson ou Valdemar, decidi tranqüilamente voltar a pé ao meu hotel.

O fim de tarde de sol favorece uma caminhada pelas ruas arborizadas de uma cidade que, por seu pequeno tamanho, é isenta de engarrafamentos, de insegurança e de qualquer tipo de risco.

As pessoas te sorriem e te cumprimentam.

Param o carro assim que você faz menção de cruzar a rua e você não vê ninguém discutindo ou se confrontando. Pura civilização.

De qualquer forma, sinto-me um pouco cansado. Os últimos dias tem sido intensos e ainda tenho mais alguns pelo Sul e leste da ilha, antes de pegar o ferry para a cereja do bolo: três dias nas Ilhas Feroés.

SUL E LESTE DA ISLÂNDIA - 23 e 24 de Julho

Novamente deixo Reykjavik, mas desta vez parto na direção do leste do país para completar seu contorno. Estou na Islândia há 12 dias e a vou percorrendo pela costa, no sentido anti-horário.
Faz um tempo agradável na capital Islandesa, convite explícito para viajar de moto.

Obviamente, para um motociclista o clima influencia enormemente na condição psicológica da viagem.

Trata-se de férias e, portanto, sempre queremos aproveitar ao máximo o que o verão pode oferecer, mesmo que esse verão nunca ultrapasse os 12 graus. Daí o fato de eu ter falado tanto em meteorologia nos meus últimos posts.

Vou chegando aos últimos dias de minha viagem. No leste tomarei o ferry que me levará às Ilhas Feroés onde passarei três dias antes de regressar, sempre de navio, à Dinamarca e, dali, à França.

Enquanto vou levando a moto, já de amortecedores novos, vou fazendo em minha mente um pequeno balanço do que foram as últimas duas semanas.

Apesar dos pequenos problemas técnicos, que acho ter podido administrar razoavelmente bem, esta viagem tem sido tremendamente interessante e divertida em todos os sentidos.
Admito que estava um pouco preocupado em percorrer sozinho todas essas estradas sem pavimento, em montanha ou mesmo penduradas nos intermináveis fiordes.

Entretanto, tudo se passou muito bem até agora, permitindo que eu realizasse meu objetivo proposto no planejamento destas férias: dar a volta completa no país, iniciando pelo Norte e terminando pelo Sul.

Enquanto vou divagando em meus pensamentos, pois pilotar ajuda a pensar, vejo que estou chegando à região onde se encontra o famoso vulcão de nome impronunciável que assolou a Europa com sua erupção estratosférica de cinzas em Maio de 2010.

Milhares de aeronaves foram colocadas em terra e incontáveis voos ao redor do mundo foram cancelados. Muita gente ficou bloqueada, sem poder voltar para casa nessa semana em que o mundo viveu um caos total.

Eu mesmo, tive que regressar de Edimburgo, na Escócia, para Paris, de trem em 14 horas de viagem em vez de hora e meia de avião.

O vulcão se chama Eyjafjallajökull (nem tente pronunciar...) e está localizado a poucos quilômetros da costa sudeste da Islândia.
Ainda se pode ver a mancha negra de lava no seu cume coberto de neve.

Aproveitei a ocasião para visitar um pequeno museu mantido por uma família de fazendeiros ao pé do vulcão, onde contam, através de um vídeo de 20 minutos, como foram os eventos dessas erupções e como essa família teve sua vida afetada com a acumulação de cinzas (quase 10 cm) nas suas terras além das inundações que o degelo no glaciar provocou a partir do calor das erupções.

Muito interessante. Uma história onde o ser humano mais uma vez se supera diante da adversidade da natureza. Gostei.

Sigo meu caminho, novamente com muito vento de través.
Vou levando a moto inclinada e chacoalhada por rajadas muito fortes de um vento frio vindo do norte.

Seguuuuura peão!!

Em Vik, pequeno povoado localizado em uma bela península entre mar e montanha faço uma pausa para almoçar um delicioso cozido de ovelha.

Lembra muito o tradicional "puchero" que costumamos comer em minha terra, o RS. (Saudades de casa!)

Antes de deixar Vik, vou abastecer a moto e encontro na estação de serviço, dois italianos, Francesco e Luigi que viajam juntos, em uma GS Adventure, o primeiro e em uma KTM, o segundo.
A moto de Francesco vai incrivelmente carregada. Não resisto e pergunto: É uma moto, ou uma pirâmide? Eles perguntam até onde vou.

Respondo que até Höfn, a 250 km dali para visitar os grandes glaciares.

Eles confirmam que também se dirigem para lá e partimos juntos, como corresponde a bons motociclistas quando se encontram.

Essa é uma característica bastante comum nos motociclistas italianos. São extremamente amigáveis e agregadores, bons e confiáveis parceiros.

Francesco é siciliano e Luigi, piemontês. A rigor, eles não deveriam ter nada em comum, sendo um do Sul e o outro do Norte da Itália.
Mas não é assim, e isso, sobretudo graças à moto e à paixão comum pela viagem.

Vamos visitando a costa que se desenha entre mar e glaciares, com uma exuberância e grandiosidade de tirar o fôlego.

Aproveito para pedir aos italianos façam algumas fotos minhas rodando sobre a moto, o que finalmente não resulta muito bem a nível de enquadramento. São melhores motociclistas do que fotógrafos.

O dia portanto, transcorre divertido, convivial e interessante.
Depois de quase duas semanas viajando só, reconheço o prazer de ter companhia e de poder dividir a apreciação de lugares tão especiais.

Chegamos a Höfn e logo encontramos um camping. O tempo está ensolarado e convida a acampar nesse lugar realmente peculiar entre montanhas e mar.

Francesco tem sua moto carregada não é por acaso. Leva tudo nela: 7 litros de bom vinho Nero D'Avola, siciliano, "sugo" para a pasta, massas, fogão, pratos, panelas, copos, etc. Sua barraca parece mais uma tenda de circo.

Para que vocês tenham uma ideia, ele pode dormir dentro e também colocar a sua moto ao abrigo da intempérie.

Depois de duas cervejas no pub local, fomos preparar nosso jantar onde o siciliano nos brindou com uma massa fantástica acompanhada de um bom queijo "pecorino" defumado.

Muita classe, no camping de Höfn nessa tarde de sol.

No dia seguinte, depois de passar algumas "dicas" de onde ir e o que visitar na Islândia aos meus novos amigos italianos, peguei a estrada enquanto eles se demoravam um pouco mais na charmosa Höfn.
Este seria meu último dia nesta fabulosa ilha feita de pedra, fogo e gelo.

O país verdadeiramente não me decepcionou.

Há muitos turistas, é verdade, e por isso, o país começa a perder um pouco seu ar selvagem e remoto já que cada vez mais vão sendo asfaltadas aquelas estradinhas gostosas de levar a moto com total concentração na pilotagem e o prazer de perceber o relevo da pista no comportamento da motocicleta.

Os últimos 300 quilômetros que me separam do porto onde partirá o ferry na manhã seguinte são feitos pelo asfalto, em um belíssimo dia de sol, como se a Islândia quisesse me fazer ver que aqui também o verão, ainda que mais raro e precioso, existe.
Nunca, em nenhuma outra viagem que fizera, o sol foi tão valorizado em seus fugazes aparecimentos.

Pelos fiordes do Leste, menos impressionantes do que os seus homônimos do Oeste, mas igualmente bonitos, vou me aproximando do final da viagem, sem tristeza, sem lamentar, apenas percebendo satisfeito que foi uma linda jornada e que valeu a pena ter vindo conhecer esta ilha de glaciares, vulcões, montanhas, rios e fiordes e sobretudo de sua gente serena, reservada e forte.

Posso dizer hoje que conheço a Islândia e, mais uma vez graças à motocicleta.

Como todos os lugares que visitei, a Islândia fará doravante parte de minhas memórias, de minhas lembranças, de meus comentários.

Vale, sem a menor dúvida, o esforço de vir até aqui, apesar de distante e de difícil acesso, sobretudo para conhecer um mundo que é, de uma certa forma, diametralmente oposto ao nosso, no Brasil.

E, como dizem por aí, os opostos se atraem.


ILHAS FEROES -26 a 28 de Julho

Depois de duas semanas bem preenchidas na Islândia, a Companhia de Ferry me propôs um preço interessante no bilhete se eu passasse três dias nas Ilhas Feroés, a meio caminho entre a Islândia e a Noruega.

Aceitei prontamente de conhecer novas paragens com a curiosidade e o entusiasmo que me são peculiares.

Quem já ouviu falar destas Ilhas, colonizadas por monges irlandeses no século X, que procuravam um lugar mais seguro para viver e, em seguida facilmente conquistadas pelos audaciosos vikings?

Trata-se de um pequeno país de menos de 50.000 habitantes. Sua capital, Torshavn, uma das mais pequenas do mundo, tem apenas 15.000 pessoas.

O arquipélago é composto de 15 ilhas, mais ou menos próximas, que são conectadas por túneis submarinos, por pontes, ou mesmo, quando mais distantes, por barco.

Desembarquei em Torshavn, às 3 h da manhã e dirigi-me para o hotel que tinha reservado.

Ninguém nas ruas, e o GPS que não funciona.

Ótimo, não tenho a menor ideia da direção que devo tomar. Estou perdido em uma cidade do tamanho de Parati. Ridículo.

Encontro um grupo de jovens, saindo de uma festa, mais ou menos encharcados, que me indicam de forma genérica a direção a tomar.

Consegui finalmente achar a escola convertida em pousada uma meia hora depois e ainda a tempo de um justo descanso naquela madrugada.

Acordo tarde e decido sair para percorrer as ilhas. Da ilha mais ao Sul, à ilha mais ao norte não são mais do que 150 km.

Olho pela janela e me vejo dentro da neblina mais densa que vi nos últimos.... 10 dias?

Mesmo assim, armei-me de coragem e resolvi fazer uma volta sob o risco de não chegar a ver nada.

Saindo de Torshavn, entro em um dos muitos túneis e ao sair, surpresa! Fazia o maior sol, céu azul, uma maravilha! Bom dia, ilhas Feroés, penso eu.

A primeira coisa que chama a atenção é que não há árvores.

Campos de uma verdura esmeralda cobrem as montanhas e servem de pasto às milhares de ovelhas, uma das fontes de economia do lugar, assim como a pesca.

As Ilhas Feroés são ligadas de forma autonômica à coroa da Dinamarca mas preferiram não fazer parte da União Européia. Decididos e independentes , esses feroeses!

O relevo é de uma certa forma similar ao da Islândia e a costa é também marcada por fiordes de contorno menos expressivo porém, mais delicado.

Não há estradas de terra, todas são asfaltadas e em excelente estado.

Vou levando a KTM por esse novo país, aproveitando as lindas paisagens e o bom tempo deste lado das ilhas.

Os vilarejos se sucedem sempre à beira mar, em lugares mais ou menos protegidos do vento. Casas bem cuidadas, de arquitetura simples, formam os bem organizados povoados.

Uma característica na arquitetura local é a construção de casas sobretudo de madeira com o telhado coberto de grama.

Aparentemente é uma técnica muito bem guardada, a confecção desses telhados. Não podem ser muito planos para não acumular neve nem umidade e não devem tampouco ser por demais inclinados para não perder a terra e, por conseguinte, a grama.

O que sei é que são muito lindos!

Se integram perfeitamente à paisagem e dão um aspecto ecologicamente correto ao país.

As pessoas, apesar de ilhéus, são amáveis e gostam de uma boa conversa, o que torna extremamente agradável o passeio pelo país.

Sempre perguntam de onde sou e, ao ouvir a resposta, reagem como se um carioca ou paulista ouvisse um estrangeiro no Brasil dizer que é das Feroés...!

Assim, temos conversa por bons momentos e falamos de pesca, criação de ovelhas, vento do norte, tradições herdadas dos vikings, etc.

Assuntos que, obviamente, este motociclista de longo curso aqui é extremamente versado!

O prazer de percorrer estas estradas que invariavelmente terminam em uma pequena aldeia junto ao fiorde é indescritível. As Feroés não tem o aspecto desafiador e selvagem da Islândia.

Aqui, você nunca está a mais do que 5km da costa e jamais vai correr o risco de se perder ou de ficar sem combustível por falta de um posto nas proximidades.

No final da tarde, ainda com um pouco de sol, aproveito para conhecer Tonshavn que é uma gracinha.

O seu centro histórico é todo composto de casinhas de madeira com seu telhado de grama. Pintadas, seja em vermelho, seja em preto, elas formam um enorme contraste com a suntuosidade histórica de outros países europeus.

Trata-se de um pequeno país perfeitamente feliz em sua cultura, sua gente bonita e suas tradições. Aqui, no meio do Atlântico Norte, o tempo é rigoroso e é preciso trabalhar duro para poder ter o conforto necessário à sobrevivência.

Nestas ilhas chove mais de 300 dias por ano e o inverno é longo e duro.

Na manhã seguinte comprovo que a neblina permanece ali. Passarinho continua descendo pelo tronco da árvore. Impossível ver coisa alguma.

Saio de Torshavn, faço 30 km e a neblina sempre ali. Não consigo ver o parabrisa da moto. ( Força de linguagem, só para ficar mais dramático...).

Volto para a capital e resolvo me juntar anonimamente às comemorações da data nacional que acontece neste fim de semana.

O povo todo nas ruas, famílias inteiras vestindo vistosos e coloridos trajes tradicionais, crianças levando bandeirinhas das Ilhas Feroes, no estilo dos países escandinavos em fundo branco com a cruz horizontal em vermelho e azul.

Aqui se respira o orgulho de pertencer a esta pequena terra tão sofrida em meio ao Atlântico. É emocionante.

Passo uma tarde maravilhosa, bebendo boa cerveja e conversando com esse povo amável e aberto.

Assisto com eles a regatas de barcos tradicionais a remo e acabo por jantar um par de cachorros-quentes que devem determinar minha ultima refeição em terra firme antes de tomar o navio de volta ao continente Europeu.

Sem dúvida, apesar da timidez das ilhas em não querer se mostrar e manter seu véu de neblina, adorei ter passado por aqui para conhecer este pequeno pedaço de harmonia e civilização.

36 horas de navio me separam da Dinamarca. Alguns amigos motociclistas estarão também a bordo.

Tempo para trocar experiências, contar histórias, dividir expectativas. Sempre voltaremos para casa mais ricos em vivência do que quando saímos.

Dois mil km me separam de Chantilly na chegada ao porto de Hirtshals, na Dinamarca.

Na vinda, esses dois mil km foram percorridos trazendo na bagagem, antecipação, curiosidade e expectativa.

Agora na volta, eles serão novamente percorridos levando na mesma bagagem, vivências, lembranças e experiência.

E é por isso, sem a menor sombra de dúvida posso dizer que brevemente, assim que nossas obrigações nos permitirem, voltaremos a partir.

Obrigado, de coração, a todos que leram minhas apressadas palavras por aqui.

Muitas vezes, postei sem conferir, ler ou corrigir. Peço desculpas por eventuais faltas de ortografia ou de gramática.

Sou só um motociclista que gosta de contar suas experiências.
Viajar com vocês na garupa iluminou mais ainda muitas de minhas noites de sol.

É fundamental, nesta breve e atribulada vida, ter amigos.

Eu sinceramente, sei que os tenho, nos quatro cantos em que andei.

Um beijo grande a todos e, até a próxima!


Ricardo Lugris (Julho de 2013)
 
 
 
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Comentários (52)

5/2/2016 17:19:30
WILIAN DANTAS OLIVEIRA
que maravilha de viagem toda viagem tem os contra tempo mas que gera mais istorias a serem contatas o final feliz é o que conta .
tenho uma ktm 390 duk e me faz feliz com meus paceios mas com pequenos problemas que estao surgindo fico triste tambem ela ta me dando nos nervos
 
23/7/2014 23:08:21
ARY
Cara, sempre me surpreendo com esses relatos de suas viagens. Sempre chego à conclusão de ganhei ao invés de perdi tempo. Muito bom ler tudo isso e fico feliz pelo seu prazer em relatar pra nós, os que desejamos mas não podemos estar aí. Valeu e desejo que DEUS te abençoe com outras e quem sabe, muitas viagens pra conhecermos mais desta parte do planeta em que tu vives. Grande abraço.
 
21/10/2013 16:55:03
PEDRO FERREIRA MOREIRA
Boa tarde
A vida é um "sonho" que, infelizmente, nem todos o têm!
Há que vivê-lo...
Com todas estas descrições e narrações, conseguem criar e um grande "entusiasmo, nos que leem
Para mim, andar de mota é para muitos uma aula de "yoga"...
Quando chegarem a Portugal (!!!!), tenho muito gosto em poder viajar com voçês!!
Abraço
 
12/9/2013 14:03:33
FELIPE MIRANDA
Mais um riquíssimo relato de viagem Ricardo. Um verdadeiro energético a qualquer ser humano que tem o motociclismo de aventura nas veias. Parabéns pela "expedição" e muito obrigado por compartilhar aqui no Rotaway.
 
8/9/2013 12:20:45
LEONARDO
Caracas Lugris, com o seu relato viagem junto contigo.
Abs de Porto Alegre.
Leo Dantas
 
7/9/2013 16:57:03
LINDA CRISTINA DEGRAZIA SARTURI
Bela experiência. Precisa coragem!
Saúde.
 
9/8/2013 11:46:47
JOAO A. G. DE AZEVEDO.
INDESCRITÍVEL ESTAS FÉRIAS HEIN. PARABÉNS POR ESTE ESPÍRITO SEMPRE JOVEM. ABRAÇÃO DE UM MOTOCICLISTA INICIANTE.
 
7/8/2013 16:35:16
ROMULO XAVIER
-aqui em Bagé, tambem temos uma turma de motociclistas, o estilo é diferente motos 4 cilindros, a minha é uma cb600 hornet. Acho que um parente teu mora na rua paralela a minha, no bairro jardim do castelo em Bagé. não fizemos viagens longas. A minha maior viagem, foi até colônia do Sacramento -Uruguai. Seguidamente nos reunimos para uma linguiçada e cervejada.
 
7/8/2013 14:51:50
OTAVIO ARAUJO GUGU
Nessa o amigo se superou... e muito!!!
Possivelmente pelas paisagens vc me pareceu mais inspirado e com um humor especial. Os seus relatos, talvez por ser uma região especialíssima desta vez superaram as expectativas. As Ilhas Feroes eu não sabia tratar-se de um país, muito interessante a ligação por pontes e túneis, fantástico. Feliz por saber que o amigo realizou com sucesso mais essa incrível aventura e já está comendo Chantilly em casa. Aqui deixo meu fraterno moto abraço. Gugu - Taubaté/SP
 
3/8/2013 21:48:33
FERNANDO ZANFORLIN
Reli tudo aqui pelo Rotaway. Que coisa bacana, refletir sobre os prazeres da vida, saber que podemos ser felizes "mesmo com as botas encharcadas". Vamos prá próxima.
 
29/7/2013 19:16:05
FABIANO
Ricardo, mandou muito bem.
Que experiência ímpar.
Parabéns
 
29/7/2013 18:25:32
ZOROASTRO DA SILVA
Caro Lugris (Magro), linda a história de mais essa sua aventura. Faça o que já comentei contigo mais de uma vez: Escreva um livro. Conte todas as suas aventuras, até como forma de relembrar as que você já fez. Você tem muitas histórias das viagens para contar. Que o Grande Arquiteto do Universo o ilumine e o proteja sempre. Forte abraço.
 
29/7/2013 16:59:15
MARCELO VORCARO
Merece uma "capa dura" . No Brasil e no restante da América do Sul, tem venda grande garantida. Podes até aposentar na Embraer.Rsss. Muito gratificante esta viagem, onde voce vivenciou tudo o que se pode ocorrer em uma aventura sobre a sela de uma moto. 4 estações, solidariedade, amizades que ficarão, lugares incrívelmente bonitos e dramáticos, problemas mecânicos que causaram amolação, mas trouxeram superação, enfim, tudo colaborou para seu crescimento como pessoa.Congratulações, amigo, por nos brindar com tudo isso, ainda por cima grátis, porque somente vc sabe o quanto custa chegar a lugares extremos , divulgar, e ainda ter bom humor para superar as dificuldades. Um baita abraço das Minas Gerais!!
 
29/7/2013 14:34:31
DANIEL TERRA
Ricardo, simplesmente fantástico. Valeu por compartilhar.
Mas ñ fala mal da KTM ñ, que tenho a marca há mais de 5 anos e estou super feliz. Só alegria com a máquina.
E no mais, parabéns
 
28/7/2013 23:52:09
RICARDO ABREU
que viagem xará Ricardo.
em 2015 pretendo fazer o mesmo destino.
valeu a dica e parabéns pelo diário.
tenho acompanhado todo dia.
abs.

Ricardo
 
28/7/2013 17:26:44
RENATO RECCHIA
Hola Ricardo, pasamos tan bien y con mucha alegria, junto a ti en el barco, esperemos vernos en otra aventura.Un abrazo.
 
27/7/2013 19:49:16
OTAVIO ARAUJO GUGU
Ricardo, incrível sua aventura na Islandia, gostaria de estar aí com você. Muito legal vc ter encontrado novamente com o Marcelo Resende, dois grandes aventureiros solitários...kkk Apreciei o DC3 que vc fotografou e mais ainda sua forma de descrever a viagem. Siga sob a proteção do Criador, fraterno moto abraço. Otavio Araujo - Gugu - Taubaté/SP
 
27/7/2013 16:59:51
GERALDO BERGAMO FILHO GEBÊ

Olá Ricardo, que maravilhosa aventura, que delícia de relato que nos leva com vc por essas plagas, parabéns e continue vivenciando seus sonhos mas não deixe de nos reportar para que possamos também viver essa aventura. grande abraço e que Deus lhe proteja....Gebê
 
27/7/2013 12:50:56
JAIR BILÉSIMO
Belos relatos, Ricardo!
Você tem o dom de nos fazer imaginar acompanhá-lo de perto, e escreve de maneira muito bem humorada. Parabéns! Grande aventura! Boa sorte! Grande Abraço!
 
26/7/2013 06:56:42
RICARDO LUGRIS
Meu caro Gilberto, em primeiro lugar obrigado por seus comentários. Assim como aproveito para agradecer a todos os amigos motociclistas, ou não, que tem me acompanhado nesta viagem. Respondendo ao seu comentário, o livro é um sonho. Só falta o editor. Abraço!
 
25/7/2013 19:31:41
GILBERTO COSTA
Ricardo, fico maravilhado com o seu poder literário. Quando embarcamos nos seus textos, automaticamente embarcamos na sua viagem. Mas queiro deixar uma sugestão construtiva. Os seus textos são muito extensos para serem lidos na mídia eletrônica. Pense em escrever um livro.
Agradeço por compartilhar as suas experiências.
Parabéns.
 
21/7/2013 08:58:13
OTAVIO ARAUJO GUGU
Oi, Ricardo & Marcelo !!! Agora sim, depois de um encontro em Reikjavik espero que os dois amigos sigam por um trecho rodando juntos. Que sufoco por causa do sensor do descanso, vou procurar me informar sobre o assunto e possivelmente publicar algumas instruções sobre isso. De resto espero que prossigam com o Criador nessa linda jornada. Fiquem com meu fraterno moto abraço, Gugu - Taubaté - SP
 
20/7/2013 10:14:06
AMARAL
Ricardo, inveja branca. rs
Esta sua viagem faz parte dos meus objetivos.
Obrigado por compartilhar a sua experiência, e suas estão sendo de grande utilidade para que eu possa fazer o meu roteiro aí pela ilha.
Em 2015 vou colocar os pés e os dois pneus por aí.
Boa viagem e parabéns pelo alto nível dos seus relatos.
Saudações de Goiânia.
 
18/7/2013 08:59:53
HEBERT NAUN
Ricardo, você no seu post nos faz visitar os lugares por onde passa. Parabéns pela viagem.
 
15/7/2013 23:17:51
HORACIO PIVA
Relato extraordinario! Lugris, vc eleva a regua do motociclismo.
Somos todos seus devedores. Toca em frente.
 
15/7/2013 19:58:02
JOSE LUGRIS
Hola hijo:: Seguimos los dos viejitos disfrutando con la lectura de tus crónicas de viaje. Nos encanta la gracia y simpatía que imprimes con tu bello portugués a estas páginas.
Pedimos todos los dias a la Pilarica que te dé protección en esa fantástica aventura por ese bello País....
 
15/7/2013 19:58:00
JOSE LUGRIS
Hola hijo:: Seguimos los dos viejitos disfrutando con la lectura de tus crónicas de viaje. Nos encanta la gracia y simpatía que imprimes con tu bello portugués a estas páginas.
Pedimos todos los dias a la Pilarica que te dé protección en esa fantástica aventura por ese bello País....
 
14/7/2013 08:18:03
PATRICK
Lugris vc me tranquilizou explicando que nao venderam as suas BMW GS.
Eu tinha uma KMT e de tanto ver o Edu rodar com a BMW troquei a minha antiga KTM pela BMW GS, e agora, só vejo vcs de KTM, ate fiquei com receio de ter tomado uma decisão errada.
Já que as BMW de vcs estão da garagem, estou feliz.
Boa viagem pra vc
 
14/7/2013 08:09:20
ALMIR
Ricardo Lugris, eu já algumas vezes falei com o Eduardo, você tem que escrever um livro.
Eu também ando de moto, não como vocês, mas quando leio os seus artigos, viajo pelos mesmos lugares onde sequer já passei.
Parabéns Ricardo e continue nos brindando.
 
13/7/2013 18:54:22
BETO SARAIVA
Sempre com esses maravilhosos relatos.
Parabens. Saudaçôes Bageenses.
 
13/7/2013 08:57:07
EDUARDO WERMELINGER
Amigo Ricardo,

Não preciso comentar o quanto, pelo seu relato, você nos traz de perto as "terras islandesas", mas o seu brinde, resume toda esta nossa inspiração.. Um BRINDE À VIDA!

Um grande abraço!
 
12/7/2013 20:43:27
GILBERTO COSTA
Prezado LUIS FERNANDO T. OLIVEIRA,

Tanto o Edu e o Ricardo não abandonaram suas BMW GSA, não.

A KTM foi comprada pra fazer estradas mais off road. O Ricardo, não o conheço pessoalmente, mas o Edu, á meu amigo há mais de 20 anos, e sua predileção é por pistas off road.

Abraços.

Gil (Ribeirão Preto - SP)

 
12/7/2013 19:07:20
LUIZ FERNANDO TEDESCHI OLIVEIRA
Fantástica viagem!!! Obrigado por compartilhá-la. Espero que a KTM se comporte à altura das GSs que a antecederam daqui p diante.
Por q os rolamentos da mesa precisaram ser trocados? A moto é nova.
 
12/7/2013 15:55:58
JOSE LUGRIS
Bién llegado hijo:: Continuamos viajando contigo por esa bella Islandia. Preciosos tus escritosy bellas las fotografías.
Te deseamos que disfrutes y mucha suerte con la motoca, que esta se porte bién.... Besos de tus padres!!!!!!!!
 
12/7/2013 15:42:56
A.LUGRIS IV
Siempre es un placer compartir tus aventuras. Suerte y buen viaje!!!

 
12/7/2013 15:04:27
ANTÔNIO SALGADO
Em 2011 estive na Islândia, onde conheci a ilha de carro. Algo realmente inesquecível. De moto, Ricardo Lugris, já posso sentir a emoção pelos seus relatos.
Saudações.
Antônio Salgado
 
10/7/2013 23:14:35
MANOEL MOURA
Estamos todos chegando nesse navio. Estou nessa viagem através dos relatos e fotos que serão divulgados e da torcida que é calorosa. Vamos nessa !
 
10/7/2013 21:31:13
RUBENS CAMARGO CAPITÃO DEMOTO
Olá, Ricardo!
O acompanhamento dessa sua viagem me foi indicado, tipo RECEITA, pelo amigo Gugu, de Tauba! Parabéns pelo desafio e pela forma descontraída com que relatas cada experiência vivida. Vai ser muito bacana continuar acompanhando-o! Suerte, como te diriam los hermanos!
 
10/7/2013 18:38:26
OTAVIO ARAUJO GUGU
Oi, Ricardo!!!
Estava com saudade de você e de seus textos sempre cheios de humor.
Deve ser uma aventura única essa na Islândia.
Aproveite bastante, curta e não economize nas fotos, olha lá !!!
Nunca imaginei que existissem tantos aventureiros rodando por essas plagas... kkk
Na volta vamos "tomar umas geladas" em SJC ou Ubatuba para colocar o papo em dia, combinado?
Fique com aquele fraterno moto abraço,
Gugu - Taubaté/SP
 
10/7/2013 11:26:12
ALBERTO TARDELLI
Caro Ricardo, embora eu não o conheça pessoalmente, tenho grande admiração pelo seu estilo de vida.
Você e o Wermelinger, são exemplos vivos, do que é realmente e se VIVER.
Excelentes textos. Estamos viajando contigo.

Alberto Tardelli
 
10/7/2013 08:54:49
CARLOS WEIS
Grandão, você eh um excelente navegador, excelente motociclista, excelente escritor...mas acho que para viagens com a KTM vc tem que levar um Tec Rep.....
Parabéns pelos seus relatos e aproveite
PS: Golsfista mediano..
 
9/7/2013 23:02:09
MANOEL MOURA
Estamos viajando junto. Não economize nas fotos nem nos relatos.
 
9/7/2013 20:09:10
PEDRO VARGAS
Meu amigo Ricardo, vc tem que escrever um livro.
Daqui do meu iPad, cheguei a trocar a marcha da moto, freiar, fazer curvas, sentir as retas, etc.
Mt bom! Parabéns. Firmeza na viagem.
Abs
 
9/7/2013 03:34:52
MARCELO VORCARO
Bom dia Ricardo, ja fez estrada e de sapatinhos novos!!! Aquele belga devia tomar um troco. Esqueceu 2 parafusos? Fdp. Podia ter te causado serios problemas. Por enquanto esqueca isso, e aproveite ao maximo estes momentos de grande prazer a bordo da cavalona . Boas surpresas te aguardam na Islandia.Obrigado a vc pelos papos e de ter me tirado de uma fria.
 
8/7/2013 21:54:07
CARMEM LÚCIA
Ricardo Lugris,
quero parabenizá-lo pela incrível dissertação, a qual nos leva a também viajar.
Att. Carmem Lúcia
 
8/7/2013 16:17:40
JOSE LUGRIS
Hola hijo: Superados los primeros percances, a esta hora ya estarás en un ferry rumbo a la bella Islandia. Hoy recibimos por face tres bellas fotos de Dinamarka.. Ojalá que tu compañera de dos ruedas se porte bién y disfrutes de un bello paseo..
Cariños de estos padres...
 
8/7/2013 00:39:25
RICARDO TEIXEIRA
Xará, esse foi inicio de viagem que você deve ter pensado: "onde é que fui amarrar o meu burro", mas felizmente deu tudo certo. Continue com a excelente viagem. Continuamos na garupa....

Abraços
 
7/7/2013 21:34:39
MARCIO
Muito bacana esse relato!! Viajei por 18 países na Europa numa louca aventura passando por situações semelhantes e tenho alguns casos em que pessoas que eu não conhecia me ajudaram de uma maneira onde nunca poderei esquecer e com isso eu aprendi muito a ser solidário e sempre que vejo alguém em apuros paro logo para perguntar se a pessoa necessita de ajuda... Forte abraço e continue a desbravar o velho continente que tem muitos locais incríveis assim como nosso Brasil.
 
7/7/2013 20:44:44
EDSON
que relato bonito, o bom mesmo é viajar sempre de bom humor assim a vida é mais bela,mesmo com alguns contra-tempo....seja sempre vc mesmo ...parabens....
 
7/7/2013 19:51:11
FERNANDO ZANFORLIN
São aos contratempos creditarmos desinteresse desvalorizando-os, sempre e com certeza coisas melhores virão. Boa Lugris, mostra para eles que vc. não está nem aí para eles.
 
7/7/2013 15:39:14
SILVANA LISBOA
Parabens. Muito envolvente o seu relato.
 
7/7/2013 12:54:22
TERESA
Que bonito isso Ricardo.
Gostei do que li: conseguistes ver, no que os outros achariam um grande incômodo, uma jornada extraordinária.
Sorte e saúde .
Boa viagem
 

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